quarta-feira, 23 de abril de 2008

É hora de revermos nosso papel na sociedade

Matéria de um jornalista...


Até quando vamos nos calar?

Estou cansado do caso Isabella. Este homicídio virou a piada do país. Podem criticar que estou sendo frio pela morte de uma criança. Contudo, também senti horror pela tragédia, apesar da impaciência. Não gostaria de saber por nenhum veículo de comunicação sobre o assassinato de ninguém que, infelizmente, é o crime que mais acontece de norte a sul. A história desta menina mobilizou o Brasil pela busca de culpados. Interessante como a nação está unida para punir quem quer que seja o criminoso. Acredito que seja pela cobertura insistente da imprensa, que mostra cada capítulo da novela com novos enredos. No entanto, este episódio virou mesmo um reality show.

O que mais espanta são a forma e as circunstâncias que tiraram a vida de Isabella. Mas o comportamento do brasileiro é mais assustador. Nesta história, quem matou, não deverá passar impune, mesmo que a lei julgue com as brechas que ela possui. Um país armado de palavrões, faixas, discursos pede a cabeça de quem jogou o corpo lá de cima. No entanto, este mesmo povo sequer comenta nos bares a prisão de prefeitos em Minas Gerais que desviaram recursos públicos, que seriam usados na saúde. Questiona-se: quantas Isabellas não morreram nas filas do INSS? Quantas crianças não faleceram devido à falta de atendimento em suspeitas de dengue? Quantas bocas deixaram de ser alimentadas nas escolas?

Indignação seria o sentimento mais plausível para se ter neste momento. Porém, eu tenho é nojo de tamanha podridão frente os demagogos que pedem cadeia para um assassino da classe média, mas que cruza os braços diante da "cachorrada" que estes governantes fazem nesta falsa democracia. Ninguém abre a boca. A turma do prédio não se une em coro para gritar: "ladrões, bandidos, corruptos, queremos que fiquem na cadeia, seus animais", quando um mensaleiro passa em seu carro blindado pelas ruas. E a mídia? Noticia a super operação da Polícia Federal, mas não coloca um repórter em cada porta para acompanhar o caso e investigar todas as testemunhas insistentemente. Provavelmente, o roteiro policial ao estilo de Ágatha Cristie dá mais audiência e vende mais jornal. Por isso, afirmo que todos os brasileiros são corruptos.

Ser corrupto é da natureza humana, um hábito recorrente que se faz sem perceber. Estranho? Não. Todos nós, sempre com o famoso "jeitinho" para ajeitar as coisas, não percebemos que de algum modo somos corruptos com os outros. Podemos não estar fazendo algo errado, mas corrompemos a sociedade quando ficamos acomodados em não tomar uma atitude honrosa para mudar determinadas situações que estão prejudicando ou lesando alguém. Prezado leitor, você pediu cadeia para quem desviou verba daqueles hospitais que não conseguiram atender os pacientes que dormiram na porta para pegar a senha da consulta? Aliás, você gritou "ladrão" para o governante que pegou o avião e viajou com a família para o exterior com o dinheiro do seu imposto?

Somos reflexos de quem nos dirige. E o convido para pensar: pimenta nos olhos dos outros não é problema meu. Deve ser do governo! Mas o governo quem faz e elegeu fui eu. Só espero que as outras Isabellas também sejam lembradas, após este triste episódio.

Juliano Azevedo

Cidadão brasileiro, que é um jornalista envergonhado por integrar esta mídia marrom

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